18/08/2015

Cultura

Palestra com o Instituto Cuidar Jovem amanhã

Palestra com o Instituto Cuidar Jovem amanhã

Nesta quinta-feira, dia 20, o Instituto Cuidar Jovem, ONG de Porto Alegre, conversa com pais, professores e estudantes do La Salle Medianeira sobre drogas e os cuidados na hora de se divertir. A palestra é promovida pela APM em conjunto com a direção do colégio, serviço de orientação educacional e supervisão educativa.

Pela manhã, a palestra é dirigida aos alunos do Ensino Fundamental Final (a partir do 6º ano) e Ensino Médio. Às 19h, a conversa é com os pais e professores.

O Instituto Cuidar Jovem promove palestras para instruir e incentivar os adolescentes a investigar a idoneidade e segurança dos locais onde ocorrem festas e também evitar comportamentos de risco, como o uso de drogas e o consumo de bebidas alcóolicas.

O fundador do Instituto Cuidar Jovem, Marcos Muccillo Daudt, é quem ministra as palestras. Ele afirma que através da prevenção é possível ter uma festa divertida, sem violência e arrependimentos. “Com alguns cuidados é possível identificar se você está em um lugar seguro. Por isso, é importante que os jovens fiquem atentos se no local existem itens de segurança e uma equipe qualificada, além de verificar já na entrada, onde estão as saídas de emergência.”

Outro ponto da palestra é sobre os riscos do consumo de bebidas e outras substâncias tóxicas, muito comuns em festas. “Ninguém precisa de álcool e drogas para se divertir e em casos onde ocorrem abusos o melhor a fazer é se retirar e curtir o final da noite em paz. Outro ponto que gosto de alertar é sobre os perigos e malefícios para a saúde das bebidas energéticas”, relata Marcos.

Como a participação de festas é uma etapa comum na fase da adolescência, Marcos acredita que melhor que proibir é orientar os jovens, para que saibam fazer escolhas conscientes e também, para que aprendam a dizer não quando necessário. Acesse a página do Instituto Cuidar Jovem no Facebook AQUI.

*Texto com colaboração do La Salle Canoas.

Confira a entrevista do fundador da ONG na edição de 16/08/2015 no Jornal A Tarde, de Salvador, na Bahia:

“O adolescente que bebe se sabota”*

Imagine que, ao entrar em uma boate, você recebe de um cinquentão um “kit boa saúde”, com barrinha de cereal, refrigerante, água e suco? Este “coroa” existe. Ele é Marcos Daudt e há sete anos,muito antes do incêndio que vitimou 242 pessoas na boate Kiss, no interior do Rio Grande do Sul, luta por festas seguras para os jovens naquele estado. Presidente e fundador da ONG Instituto Cuidar Jovem, Daudt realiza palestras, visita festas em boates e também é autor de projetos polêmicos, como o que propõe proibir a venda de energéticos para menores de 18 anos e o que busca obrigar boates a oferecerem água de graça.

Você sugeriu projetos de lei polêmicos, como o que busca proibir a venda de energéticos para adolescentes. Por que isso?

- Esta lei será votada na semana que vem ou na seguinte. Se aprovada, Porto Alegre [RS] será a primeira cidade brasileira a contar com a proibição. O energético é uma bomba-relógio. Ele tem muita cafeína. E consumir é modinha agora para a gurizada. Isso sem falar na mistura que eles fazem com vodca ou uísque. Se você pesquisar mortes por energético na internet, verá a quantidade de casos, mesmo sem termos estatísticas para isso. Em Bariloche, Argentina, os energéticos já são proibidos para menores de 18 desde 2006. Espero que a partir de agosto tenhamos a nossa proibição.

Que outros projetos você já sugeriu?

-Eu tenho um projeto de lei agora para ter água de graça nas boates, em qualquer evento. porque às vezes te cobram R$ 10 por uma água. Então, as pessoas não bebem água e esses jovens estão em fase de crescimento, não podem ficar desidratados. As boates também precisam ter posto médico ou uma ambulância,porque, se acontece um acidente hoje, não há socorro imediato. Tenho um projeto aprovado em Porto Alegre que obriga detector de metais em casas de evento e nos cinemas, e outro, também aprovado, que proíbe a entrega de bebida alcoólica sem identificação de idade.

De onde surgiu a ideia de criar uma ONG para lutar por festas seguras?

- Há sete anos morreu o filho de uma amiga e houve uma comoção muito grande. Com a perda, um grupo de pessoas se reuniu e decidiu que festa não é para morrer. Jovens vão para se divertir, eles pagam para isso. Começamos os trabalhos com uma ONG que durou seis anos. No ano passado, a família do jovem decidiu encerrar. A partir da demanda de colégios e pais, solicitando novas palestras, e do incentivo de amigos,mudei a bandeira para Instituto Cuidar Jovem, que já tem CNPJ, é bem organizado e completará um ano no próximo mês. Continuei, também, porque gosto de buscar um futuro melhor para nossos jovens, pois eles serão os gestores do nosso futuro.

O que o Instituto Cuidar Jovem desenvolve?

Nossas ações estão focadas na prevenção e na festa segura. Nós sugerimos que as boates e casas de shows tenham itens de segurança, como detector de metais, ambulatório ou ambulâncias com médicos, saídas de emergência sinalizadas, respeito à lotação máxima, contratação de seguranças sindicalizados e implantação de câmeras de vigilância. Também faço palestras para jovens em diversas instituições, com mais frequência nas escolas. Anualmente, realizo 30 a 50 palestras.

Como ocorrem as visitas às festas nas boates?

Eu visito espaços de festa com a permissão da produção. Nós fazemos ação externa, até uma hora e meia, que consiste em dar uma barrinha de cereal, refrigerante, suco e água. É uma maneira simbólica de dizer: “Olha, tu podes te divertir, mas também podes te alimentar. E, se já estiver um pouco alto, come uma barrinha, bebe uma água, para não perder o resto da festa”. Depois, entramos para confraternizar com a galera. Aproveito e observo a falta de itens. É uma relação amistosa. Eu só denuncio em casos extremos.

Já houve casos extremos?

Estes dias, por exemplo, anunciaram no Facebook uma festa open bar para 14 anos. Não pode, né? Denunciei, e representantes do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente e de outros órgãos estiveram lá e a festa não ocorreu, porque a proposta do pessoal era totalmente equivocada.

Você também defende a não ingestão de bebidas alcoólicas. Quando o álcool passa a ser prejudicial, em sua opinião?

-Quando ele começa a fazer parte da rotina e se torna um companheiro de todos os momentos. Na nossa sociedade, a gente bebe tanto para comemorar como para esquecer problemas.

Em um encontro você falou sobre a culpa do álcool na morte de algumas pessoas na tragédia da boate Kiss.

-Eu não quis dizer que os jovens que estavam lá morreram porque estavam bêbados, mas que, quando a gente bebe, perde o discernimento. O tempo para que aquelas pessoas tivessem noção e saíssem do efeito do álcool foram segundos preciosos, a diferença entre quem pôde sair e quem errou o caminho.

O país está melhor preparado depois da tragédia?

-Não. Em Bariloche, Argentina [onde houve tragédia], boates são sinalizadas, um telão exibe instruções para as saídas de emergência, para ambulatório, como em um avião. Após o acidente e mortes na boate República Cromañón, eles normatizaram tudo. Aqui, mesmo depois da Kiss, a regulamentação das boates permanece engavetada. Nosso país é lento para tomar providências frente a tragédias, esperando que outras aconteçam.

Os jovens perguntam: como enfrentar a vida, às vezes entediante, “de cara”?

-Eles estão na fase de transgredir, de experimentar. Ninguém pode tirar esse direito deles. Por isso que eu levo a informação. Por exemplo: o córtex pré-frontal, parte importante do cérebro, só termina de se desenvolver pelos 22 anos. Até os 21, 22, tu estás a desenvolver uma parte do teu cérebro que vai decidir quase tudo que é importante. A pessoa que bebe desde os 13, média de consumo de bebida alcoólica no país, estará se sabotando. Por isso que acho importante, pelo menos, retardar ou reduzir o consumo, porque eles estão se sabotando.

Você é a favor da legalização da maconha?

-Um dos argumentos para a legalização é que o tráfico vai acabar, mas não vai. Eles vão vender mais barato e ainda alterar a substância. Eu não sou contra a legalização, sou contra no Brasil, com fronteiras enormes, diversidades culturais e econômicas gigantes, onde não se fiscaliza e não se pune satisfatoriamente.

* Por Priscila Machado / Foto: Jornal A Tarde

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